Dólar atinge maior cotação nominal da história, refletindo crise fiscal no governo Lula
Nesta quarta-feira (27), o dólar encerrou o dia em R$ 5,9135, atingindo o maior valor nominal de fechamento desde a criação do Plano Real. O recorde foi impulsionado pelo anúncio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre a isenção do Imposto de Renda para salários de até R$ 5 mil, medida que gerou forte reação negativa dos mercados financeiros.
Fatores de instabilidade
O desconforto dos investidores vinha crescendo devido ao adiamento do anúncio do plano fiscal do governo. A decisão de conceder a isenção do IR, percebida como uma renúncia de receita incompatível com o ajuste fiscal necessário, agravou ainda mais o cenário. Segundo Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, “a medida vai na contramão do esperado corte de gastos, reduzindo a confiança no cumprimento das metas fiscais”.
Além disso, o cenário externo apresentava recuo do dólar em relação a outras moedas, destacando ainda mais a fragilidade do real.
Detalhes do plano fiscal
O governo deve anunciar oficialmente nesta quinta-feira (28) um conjunto de medidas para conter despesas, incluindo:
- Mudanças no Benefício de Prestação Continuada (BPC);
- Revisão da política de reajuste do salário mínimo;
- Reformas na previdência e pensão de militares;
- Alterações no Vale Gás;
- Limitação de “supersalários”.
Ainda assim, analistas acreditam que essas medidas podem ser insuficientes para equilibrar as contas públicas diante da renúncia fiscal associada à reforma do IR.
Impacto no mercado
O dólar alcançou picos de R$ 5,9289 durante a tarde, superando a marca psicológica de R$ 5,90, que era vista como resistência técnica. A cotação ultrapassou o recorde anterior de R$ 5,9008, registrado em 13 de maio de 2020, e chegou a R$ 5,9718 no mercado intraday, mas recuou levemente no fechamento.
Análise econômica
Especialistas apontam que o governo está em um dilema: a necessidade de ajustar as contas públicas contrasta com a busca por popularidade, especialmente ao adotar medidas de incentivo ao consumo. Para André Galhardo, da Remessa Online, a decisão reflete “o receio de um esforço fiscal tímido que priorize manter o apoio popular, mas agrave o desequilíbrio econômico”.
O momento destaca os desafios do governo Lula em equilibrar a política fiscal e restaurar a confiança dos investidores em meio a crescentes pressões econômicas.